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Líderes do Movimento Negro de Picos comentam perda da importância do 13 de Maio e combate ao racismo

A historiografia oficial do Brasil sempre retratou o 13 de Maio como a data de libertação dos escravos, mas como tantos fatos do passado, esse acontecimento também passou a ser questionado em tempos mais recentes. Hoje, é uma data esvaziada. O Boletim do Sertão conversou com alguns integrantes do Movimento Negro de Picos sobre o assunto. Eles comentaram o porquê desse dia em específico não contar com o reconhecimento dos movimentos de representação e também sobre a delicada questão do racismo no nosso país.

O professor de letras e educação física e também jornalista, além de capoeirista, Rafael Santos, salientou que o 13 de maio não é uma data de comemoração, devendo ser caracterizada como propícia ao protesto. Ele destaca que a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, que estava na regência do Império, não ofereceu garantias para os escravos. “Essa lei se deu mais por pressões externas, a Inglaterra estava expandindo o seu comércio e a Inglaterra chegou a ameaçar o Brasil de não mais fazer transações comerciais se não fizessem o fim da escravidão”, explicou.

Rafael Santos

Rafael lembra não foram dadas garantias a população negra, que ficou à margem da sociedade, destacando a discriminação, preconceito, segregação ao qual ficaram relegados. A data escolhida pelos Movimentos Negros no Brasil como verdadeiramente representativa foi o 20 de Novembro, dia em que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.

Sobre o racismo, Rafael destaca os avanços através de leis, especialmente na educação, contudo, o preconceito ainda está presente, como na negação do racismo. Ele também ministra palestras para professores sobre as leis que determinam o Ensino da Cultura Afro-brasileira na educação básica.

“Sempre pontuando que a educação é uma ferramenta importante nesse processo, porque se a escola reproduzir esse preconceito na sociedade, nós estaremos formando uma geração que vai perpetuar preconceito, então a nossa fala é no sentido de valorizar a cultura negra, no sentido de que o aluno possa enxergar o povo negro, que muitas vezes são ignorados nos livros didáticos”, relatou.

O militante e líder do Movimento Hip-Hop em Picos, Ted Rap, enfatiza que o 20 de Novembro é a data a ser comemorada porque o líder Zumbi dos Palmares enfrentou a escravidão. “A Princesa Isabel veio mais para coroar uma luta que já era vencida, havia apenas 5% da população negra em cárcere na época em que ela assinou a Lei Áurea, porque ela sabia que uma guerra iria estourar e os negros iriam libertar todos os irmãos”, destacou.

Ted Rap

Ted Rap explica que a redução gradual da importância do 13 de Maio se deu à medida que a população negra passou a ter acesso a educação e a entrar nas universidades, tomando conhecimento de como se deu esse processo de fim da escravidão. Ele também menciona a falta de apoio dada aos ex-escravos que continuaram marginalizados, trabalhando em fazendas. “Eles não sabiam fazer outra coisa, aí liberta, não dá indenização, e os caras saem com a mão na frente e outra atrás, e vão construir as favelas, por isso que o nosso povo é nas favelas, nas cadeias, em condições subumanas”, protestou.

A luta contra o racismo, segundo Ted Rap, é constante, uma vez que o preconceito persiste mais de cem anos depois da assinatura da Lei Áurea. “Se o 13 de Maio foi tão bom, por que até hoje lutamos para reafirmar que estamos aqui? Que existimos? A prova disso é que foram obrigadas cotas e ações afirmativas para os negros chegarem a universidade”, declarou.