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O que saber para investir corretamente o seu dinheiro? Professor Hélio Nunes responde

Com 29 anos de atuação bancária, graduado em Administração, Ciências Contábeis e Matemática, MBA em Negócios Financeiros, além de especialista em investimentos financeiros com as certificações CPA20 e CEA, o professor da Faculdade R.Sá, Hélio Nunes Ferreira, em entrevista ao Boletim do Sertão, respondeu a diversas perguntas sobre investimentos: o que as pessoas precisam saber? Quais os investimentos disponíveis? Momento favorável para investimentos? Dentre outras.

Leia e tenha mais segurança na hora de aplicar os seus recursos.

O que as pessoas precisam saber para investir seu dinheiro?

Em princípio as pessoas procuram investir com objetivo de ganhar dinheiro. Essa é a primeira motivação. Nesse aspecto, eu defendo que quem vai investir precisa entender de onde virá a rentabilidade, pois todo investimento precisa ter uma origem para a rentabilidade proposta. Saber de onde vai vir esse ganho permite analisar outro elemento muito importante, o risco. Risco é a possibilidade do investimento não render o que a pessoa espera, assim como a probabilidade de perder parte ou todo o valor investido. Como regra geral, investimentos com maior probabilidade de ganho também representam mais risco. Em contrapartida, investimentos com menor risco oferecem menor retorno. É o que a teoria de finanças chama de dilema risco versus retorno. Isso precisa ficar muito transparente para o investidor. Compreendido o dilema risco x retorno, outros pontos são importantes, como objetivo, horizonte de tempo, valor disponível e liquidez. O objetivo é o que o investidor pretende fazer com o dinheiro (comprar um bem no futuro, fazer uma viagem, pagar o estudo dos filhos, servir de reserva para uma emergência, apenas guardar sem uma destinação específica, etc). O horizonte de tempo relaciona-se com o período de tempo que pretende deixar o dinheiro investido. O valor disponível é quanto poderá investir sem comprometer sua organização financeira. Já liquidez diz respeito à capacidade de obter o valor investido de volta. Há investimentos que possuem liquidez diária, ou seja, a qualquer dia o valor pode ser resgatado. Por outro lado, há aplicações em que a liquidez somente ocorre após decorrido algum tempo do investimento.

Quais os principais tipos de investimentos disponíveis para as pessoas nas instituições bancárias?

No mercado financeiro os investimentos são classificados como de renda fixa e renda variável. Na renda fixa estão investimentos em que o aplicador recebe juros. Esses juros podem ser prefixados ou pós fixados, ou seja, a forma de rendimento é definida no momento da aplicação. A principal referência para a renda fixa é a taxa CDI (Certificado de Depósitos Interbancários), também chamada DI (Depósito Interbancário) que é uma taxa média de empréstimos que os bancos fazem diariamente entre si. A taxa CDI costuma acompanhar a variação da taxa básica de juros da economia, a taxa Selic que é definida pelo Banco Central para controlar a inflação. Na renda fixa as principais aplicações encontradas nos bancos são títulos emitidos por eles como os CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio). Também são referência a caderneta de poupança e os fundos de investimento chamados fundos DI. Os sistemas dos bancos também permitem o acesso à plataforma eletrônica Tesouro Direto, onde são negociados os títulos emitidos pelo governo, títulos públicos.

A renda variável, como o próprio nome diz não há como definir uma rentabilidade prévia, pois as aplicações estão relacionadas a variações de preços. A principal referência no mercado financeiro para a renda variável é o mercado de ações. Ações são documentos que representam participações em empresas. Quem tem ações de uma empresa é dono de um “pedaço” dela. Muitas empresas tem suas ações compradas e vendidas na bolsa de valores, gerando um preço (cotação) que varia de acordo com a procura ou oferta. Mas há várias outros investimentos em renda variável dentro do mercado financeiro, lembrando que a principal característica é a variação de preços.

Quem é mais arriscada a renda fixa ou a renda variável?

Todo investimento possui seu risco que pode ser muito baixo, baixo, médio ou alto. A renda fixa é menos arriscada que a renda variável. Mas mesmo dentro da renda fixa há diferenciações de risco que dependem de cada tipo de investimento e também das instituições financeiras que estão ofertando. À medida que o investimento apresenta maior risco é conveniente ter maior conhecimento de seu funcionamento como também de particularidades do mercado financeiro relacionadas a ele. Não é prudente investir em algo de risco sem conhecer.             

E como funciona essa taxa prefixada e pós fixada?

A taxa prefixada é aquela em que o rendimento é definido em um determinado percentual de valor. Exemplo: 0,2% ao mês, 1% ao mês, 6% ao ano, 10% ao ano, etc. Já a pós fixada é composta por um indicador financeiro que, no caso da renda fixa o mais comum é o CDI. Exemplo: 70%  do CDI, 80% do CDI, 92% do CDI, etc.

E como escolher uma taxa prefixada ou pós fixada no momento de investir?

É preciso analisar o cenário econômico previsto para o futuro. Como costumo dizer, investimentos são feitos do presente para o futuro. Gosto de ressaltar isso, porque é comum as pessoas tomarem decisão de investir tomando por base apenas o passado ou um momento presente. O passado deve ser apenas uma referência. O Banco Central divulga semanalmente a projeção de vários indicadores financeiros, dentre eles, a Selic, decorrente de pesquisas junto ao mercado financeiro, chamado relatório Focus. O Focus é uma boa referência para a tomada de decisão. No início do segundo semestre de 2020 a taxa Selic estava em 2% ao ano e o CDI 1,90% ao ano. Agora em maio/2021, a Selic está em 12,75% e o CDI em 12,65%. As projeções do mercado financeiro trabalham com Selic acima de 13% ao final de 2022. Ou seja, a renda fixa (que é  “atrelada” ao CDI) era uma péssima aplicação lá em meados de 2020, hoje, entretanto, tem uma boa rentabilidade, sendo possível encontrar rentabilidade líquida acima de 10% para o ano de 2022 e com baixo risco. Mas vale lembrar que o mercado é dinâmico. Para 2023, a projeção da Selic é fechar o ano em 9,50%, isto é, há projeção de queda dela ao longo desse ano.  

Que recomendações daria para quem está pensando em investir mas não sabe por onde começar?

O primeiro passo é definir um objetivo, seja ele qual for. A partir daí, procurar investir em instrumentos de menor risco e com os quais se sinta mais confortável em acompanhar. A aplicação financeira mais conhecida dos brasileiros é caderneta de poupança. Ela não apresenta a melhor rentabilidade no momento, mas é aquela em que as pessoas se sentem mais confortáveis para aplicar em razão de sua simplicidade. Vejo muitos textos e comentários criticando a caderneta de poupança. Particularmente, discordo da forma como esses comentários são feitos. Eu recomendo que as pessoas somente assumam investimentos de maior risco após conhecer e ter ciência dos riscos a que estão sujeitos. Os bancos possuem uma ferramenta chamada API – Análise do Perfil do Investidor. É um questionário que procura classificar o investidor como conservador, moderado ou agressivo. É importante que o questionário seja respondido de maneira fiel ao que pensa e conhece o investidor, pois assim o perfil refletirá sua realidade e permitirá melhor enquadramento das aplicações em termos de risco e rentabilidade. 

Existem valores mínimos para realização de investimentos?

Os valores mínimos variam de acordo com o tipo de investimento e as condições negociais estabelecidas pelos bancos. De uma forma geral, a maioria os investimentos não exige grandes valores, mas isso precisa ser analisado caso a caso.

O momento é favorável para investimentos?

Meu pensamento é de que o cenário sempre é favorável a investimentos. Para investir é necessário poupar, isto é, deixar de gastar parte da renda. A cultura do brasileiro é mais voltada para o consumo do que para poupar. Nada contra o consumo, mas poupar significa troca do consumo atual por consumo futuro e para isso investir torna-se importante para preservação do poder de compra ou até mesmo aumentá-lo.

Que mensagem final quer deixar para os leitores?

As ideias expostas acima não representam indução a qualquer tipo de investimento seja de renda fixa ou variável. O objetivo foi passar informações iniciais básicas que permita compreender o funcionamento dos investimentos e assim poder encontrar mais informações nos bancos de relacionamento ou através de outros meios. Investimentos financeiros representam um tema bastante amplo que é impossível descrever em poucas páginas. De qualquer forma, a orientação final é sempre procurar o máximo de informações para evitar cair em situações de alto risco que possa comprometer aquele dinheiro que a pessoa levou às vezes anos para guardar e pode “virar pó” em pouquíssimo tempo. Outro ponto, desconfie de qualquer promessa exagerada de ganho fácil, pois elas simplesmente não existem.   

Hélio Nunes Ferreira, graduado em Administração, Ciência Contábeis e Matemática, MBA em Negócios Financeiros. Bancário há 29 anos, professor na Faculdade R.Sá, especialista em investimentos financeiros com as certificações CPA20 e CEA, planejador financeiro pessoal certificado com a CFP® pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Educador do Curso de Investimentos Financeiros para funcionários do BB