A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já causa efeitos drásticos na economia do semiárido piauiense. Neste sábado (12), a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), sediada em Picos, informou o cancelamento de uma venda de 95 toneladas de mel orgânico para os Estados Unidos, que seria embarcada pelo Porto do Pecém, no Ceará.
Segundo Sitônio Dantas, presidente da Casa Apis, a medida atinge diretamente pequenos apicultores da agricultura familiar, responsáveis pela produção do mel no Sul do Piauí. O receio dos compradores norte-americanos é de que a mercadoria chegue aos Estados Unidos após o início da taxação, previsto para 1º de agosto.
“Ontem (11), no final da tarde, infelizmente recebemos o comunicado dos nossos clientes mandando suspender os embarques. Foi um cliente que é parceiro nosso há muitos anos. Fomos pegos de surpresa”, afirmou Sitônio em entrevista à TV Clube. Ele informou ainda que o grupo tenta reverter a situação por meio de negociações com os parceiros norte-americanos, na esperança de, ao menos, embarcar os cinco contêineres que já estão prontos no porto, com despacho aduaneiro finalizado.
A logística envolvida na exportação é longa e cara: os carregamentos percorrem mais de 500 km de Picos até o porto no Ceará. Sitônio destacou que o custo para manter os contêineres parados ou retornar a carga representa uma perda significativa para a cooperativa e para os produtores locais.
A Casa Apis já havia comercializado cerca de mil toneladas de mel apenas em 2025, com previsão de dobrar esse volume até o fim do ano. Agora, diante da crise, os embarques futuros também estão suspensos. Uma nova carga programada para segunda-feira (14) não será enviada até que o impasse tarifário seja resolvido.
O impacto se espalha por toda a cadeia do mel na região. O Piauí, que em 2024 liderou a exportação de mel do Brasil para os EUA, é também destaque nacional na produção de mel orgânico, setor dominado por agricultores familiares do semiárido. “Será difícil para nós, que somos pequenos produtores, e para os consumidores americanos, que terão dificuldade em encontrar mel de qualidade”, concluiu Sitônio à TV Clube.