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O problema da direita é que não tem nada direito

“Não peça coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo” (Lygia Fagundes Telles)

Por Lucas Bezerra
Acadêmico de Psicologia


Em um raro momento de descanso num dia cheio de atividades laborais, permito-me usar o celular para acompanhar algumas notícias da minha cidade, Picos- PI, e do Brasil. Li algo curioso vindo de um político piauiense que não concorrerá à reeleição- e para um político desistir de qualquer vaga que seja, não vejo outros motivos que não sejam a idade avançada procurando desacelerar, ou falta de votos. Fico com a segunda opção. – Pois bem, o político em questão intitulava-se como um cidadão de direita. Seu líder maior no estado do Piauí se diz de direita também, e mostrando sua linha de pensamento antagônica ao atual governador do Piauí, declara que não existe possibilidade para uma aliança com quem não é da direita. Irônico. Risível. Digno de algumas pontuações.

Muito embora os termos “direita” e “esquerda” tenham sido nomeados pela primeira vez nos eventos decorrentes da Revolução Francesa em 1789, como explica o professor Adriano Gianturco, docente do IBMEC- MG, foi somente na Revolução Inglesa de 1642, que seus princípios fundamentais começaram a ser regidos. Não falarei com detalhes sobre alguns teóricos liberais e conservadores de direita como Adam Smith, Hayek, Ludwig Von Mises e outros, pois transformaria estas linhas num artigo denso e com numerosas páginas. Em território brasileiro, atualmente, existem no campo ideológico da direita algumas linhas de interesse, como explica o Luiz Phillipe de Orleans e Bragança, mestre em ciências políticas pela Universidade de Stanford e deputado federal. Estes elementos são configurados em campos como, por exemplo: defesa da ordem natural, defesa dos valores tradicionais, defesa da propriedade privada, aversão e utopias. Aqui não está o mínimo do mínimo para saber sobre o que é a “direita”. Entretanto, tal qual a esquerda, a direita possui teóricos, correntes de pensamento, movimentos ao longo do curso humano e outros fatores. Tendo em vista essas questões, caro leitor, pergunto: Será que o determinado político, que por falta de votos não irá se candidatar novamente, sabe o que realmente é direita? Será que seu líder maior estudou alguma linha deste campo ideológico? Ousadamente responderei: Não!

No Brasil, você é algo sem saber o que aquilo realmente significa. Aliás, no Brasil, é moda em nome de tudo e contra todos, impor-se por meio de críticas, alegando defender a todo custo uma conduta ilibada, uma honestidade rara, e um caráter divino. Bolsonaro toma para si a alcunha de direitista, e reduz todo o campo intelectual a uma rinha contra o PT (Partido dos Trabalhadores). Ademais, ser direitista no Brasil é tão simplesmente isto: ser contra o PT. Uma das defesas teóricas da ideologia liberal é justamente a diminuição do estado, aos anarcocapitalistas, a extinção total do estado. Irônico ser direitista, quando se está há muito tempo em cargos políticos com todas as benesses que o estado oferece. Estes grupos radicais têm algo em comum, além de “mamar nas tetas do estado”. O ódio. É o ódio que alimenta estes grupos, distanciando-os de figuras humanas numa personificação dos mais absolutos valores, elegendo uma figura que liderará num culto sem precedentes.

Foi um típico específico de gente que elegeu o Bolsonaro a uma figura divina. O “mito” pode ser qualquer um, que além de não ser petista, toma para si o gosto pelas claras certezas da vida. Constroem a lógica do “não pode” para usurpar o lugar do rival. Atacam as instituições com a desculpa de que não são dignas. A lógica para este grupo é o trabalho violento e opressor com a desculpa de que é produtivo. Tudo que escapa dessa lógica para os mesmos, é considerado pecaminoso. Não sabem o que é a direita, pois essa mesma direita tem problemas metodológicos em si mesmo. A lógica direitista- mesmo que não saiba o que é direita- é a defesa inquestionável por um certo protocolo de conduta, onde nas sombras, seu sentido de vida é a servidão do seu próprio eu mimetizado pela figura lendária do seu senhor. Por fim, para ser direitista no Brasil, você precisará seguir estas regras: Ser contra o PT-pois tudo é culpa do PT. Amar, juntamente com seus familiares, as mordomias que o estado oferece, mas criticar o estado para os outros. Em tempos de política, comprar votos, mas ir à missa ou culto em dia de Domingo, pois é importante querer um assento preferencial na fila rumo ao céu. Trair é permitido. Queira uma mulher ativa na cama, mas nunca no trabalho, afinal, mulheres não sabem liderar. É simples: Seja de direita sem saber o que é ser direitista. Carlos Drummond de Andrade já escreva no poema “nosso tempo” estas questões:

Esse é tempo de partido
Tempo de homens partidos

Em vão percorremos volumes
Viajamos e nos colorimos
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua
Os homens pedem carne fogo sapatos
As leis não bastam os lírios não nascem
Da lei meu nome é tumulto, e escreve-se
Na pedra