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Boletim do Sertão Entrevista: psicóloga Fernanda Pacheco explica como a falta de dinheiro afeta a saúde mental

Fernanda Pacheco

Por Maria Gizelly
Estagiária/ R.Sá

Com a chega da pandemia da Covid-19 em 2020 houve um isolamento forçado, com isso, diversos estabelecimentos tiveram que ser fechados, causando um grande impacto financeiro para a sociedade. Somando-se a isso, a má gestão da economia nacional provocou uma crise econômica que atingiu a população brasileira. Sobre o assunto, o Boletim do Sertão entrevistou a psicóloga Fernanda Pacheco que explicou como a falta de dinheiro afeta a saúde mental das pessoas.

B.S- Como as finanças afetam a saúde mental?

Fernanda- Antes de voltar nosso olhar para a saúde mental, precisamos considerar alguns pontos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estar saudável significa um completo bem estar bio-psico-social, posto isso, falar de saúde mental significa invariavelmente falar de segurança alimentar, de moradia, de rede de apoio, entre tantos outros processos.

Pensar em questões econômicas, também é falar de saúde. Em 1943, o psicólogo Abraham Maslow propôs em um de seus trabalhos o que chamou de Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas, conhecida por Pirâmide de Maslow, nela elencou em níveis de prioridades o que seriam as necessidades de básicas a complexas dos seres humanos. Na base temos as fisiológicas que compreendem questões orgânicas como nutrição, regulação térmica, estado de sono e vigília, entre outros. Seguindo para as necessidades de segurança, sociais, estima e autorrealização, respectivamente nesta ordem.

Talvez, erroneamente, possamos tender a deslocar as necessidades básicas (fisiológicas e segurança) do que se tem como saúde mental, mas vamos pensar juntos. Como posso ter qualidade de vida nesse âmbito se me falta o que comer? Se não tenho onde morar ou moro em condições precárias? Falar de saúde mental não é “só” terapia e medicação, há infinitas outras questões que perpassam nesse sentido. Reiterando, lembrem que estar saudável é ter estabilidade bio-psico-social. O dinheiro atravessa boa parte das necessidades humanas e ter uma boa relação com ele se torna relevante para a manutenção de nossa saúde, seja garantindo alimentos em nossa mesa (fisiológicas) até investir em educação de qualidade (autorrealização).

B.S- Saúde mental também afeta em decisões financeiras?

Fernanda- Diretamente, voltando ao “bio-psico-social”, para que uma esfera funcione, as outras precisam estar minimamente alinhadas. No âmbito da saúde mental, principalmente quando falamos em diagnósticos, podemos apontar o descontrole financeiro como sendo sintoma de alguns transtornos mentais. Olhando em um aspecto mais cotidiano, quem nunca se habilitou a fazer uma atividade porque estava muito feliz e depois se arrependeu? Ou deixou passar uma oportunidade porque sentia-se desesperançoso e depois viu que teria sido possível atender àquilo? Quando enfrentamos alterações em nosso humor, sejam para estados mais positivos ou negativos, temos nossa percepção e capacidade de raciocínio comprometidos e isso pode acarretar prejuízos, inclusive financeiros.

B.S- Como equilibrar a saúde mental diante de problemas financeiros?

Fernanda- A busca pelo equilíbrio é constante e não tem um passo à passo universal, é importante entender qual a realidade de cada um. Se falo com alguém empregado, que tem suas necessidades minimamente atendidas, podemos traçar metas de autocontrole, como registrar gastos, ter objetivo de curto, médio e longo prazos, buscar conhecimento sobre o assunto etc. Por outro lado, se falo com alguém que não tem a menor seguridade de necessidades, precisamos pensar em como atender, primeiro, ao básico, para depois cuidar do mais complexo.

B.S- A importância de pedir ajuda a um profissional da psicologia, caso esteja passando por problemas?

Fernanda- Como dito acima, determinados descontroles financeiros podem acusar diagnósticos clínicos e esses precisam de atenção profissional para serem manejados, de todo modo, ao perceber que está havendo comprometimento significativo e que transpassa outras áreas de sua vida, é importante atentar-se isso e buscar ajuda.

Como estamos falando em realidades diversas, daqueles que podem investir em atendimento particular ou planos saúde, as pessoas que, no momento, precisam priorizar outros gastos, devemos lembrar que em nosso país contamos com um sistema de saúde que é gratuito e que deve ser de acesso à todos, então aí vão alguns serviços que atendem à demandas de saúde mental, são eles: Unidades Básicas de Saúde (UBAS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Referência básica e Especializada em Assistência Social (CRAS e CREAS), Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP) e entidades não governamentais, como por exemplo o Centro de Valorização da Vida (CVV, através do site ou pelo telefone 188).