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A Coluna Prestes em Picos: enfrentamento e morte

Coluna Prestes

Sabia que a passagem da Coluna Prestes em Picos resultou em luta e morte? Descubra um pouco mais sobre o assunto no texto do servidor público David Queiroz.

Por David Queiroz

Na década de 1920 a cidade de Picos sofreu por duas vezes com a passagem da Coluna Prestes. O movimento também conhecido como Coluna Miguel Costa-Prestes foi um movimento tenentista que percorreu mais de 25 mil quilômetros entre os anos de 1924 e 1927, tendo passagens pelo estado do Piauí, onde ficou popularmente dito como “revoltosos”.

Um dos fatos curiosos foi que durante a estadia do movimento na cidade, a polícia baiana vinda para frear o avanço destes, travou combate com os revoltosos. As forças legalistas usaram o adro da igreja matriz para instalar uma metralhadora. Desse combate resultou a morte do Tenente Agenor, um dos oficiais da coluna.

Durante a passagem pelas localidades, oficiais da coluna requisitavam aos moradores inúmeras coisas, dentre elas animais como cavalos que lhes serviriam para a continuidade da marcha. Além deste, outro fato marcante aconteceu na localidade Tabuleiro dos Pio, em Picos, como conta o trecho do livro A Coluna Prestes no Piauí, do jornalista Chico Castro:

Coluna Prestes

“Andavam procurando cavalos velozes, que pudessem dar-lhes fuga. Muitos moradores esconderam os animais com medo das requisições. Um deles, Isaac, apanhou muito para descobrir o paradeiro dos quadrúpedes. Mas nada contou. Depois, pegaram Pedro Pio e o espancaram. Então, um capitão da Coluna avançou para Isaac com a chibata em punho. O rapaz derrubou-o ao chão em um luta feroz. Pio, vendo o irmão naquela sofreguidão, pegou uma arma e apunhalou diversas vezes o revoltoso, matando-o.”

Fontes Ibiapina relata a valentia dos irmãos, destacada na fala de Isaac Pio, que após já ter sido torturado e prestes a passar por nova seção de tortura afirmou ao capitão revoltoso que “um homem só não me surra não, só apanhei porque eram muitos”. Como já sustentado anteriormente, os irmãos conseguiram desarmar e matar o agressor Capitão Tomé. O relato dá conta de que após ferir de morte o revoltoso, Isaac voltou a falar “eu não disse que um sozinho não me surrava”, retrucado pelo Capitão que bradou “disse e provou, Guará, mas de tua família não fica nem galinha.” Na fala do Capitão, “Guará” faz analogia ao Lobo-Guará

Após isso, Pedro foi morto por outros revoltosos que estavam próximos e que saquearam e incendiaram a casa da família. Isaac seria baleado e morto no fim do mesmo dia ao passar uma certa enquanto se aproximava da casa. O capitão revoltoso fora enterrado por seus companheiros e os irmãos foram enterrados por membros da família Feliciano, já que a família dos mortos ainda estaria escondida com receio de retaliações.

No local onde foram sepultados os irmãos foi erguida pela família uma capela e o cemitério do povoado fica ao lado desta. Ainda existe no povoado parte da estrutura da casa que fora queimada pelos revoltosos.

Capela erguida pela família em homenagem às vítimas. Foto: David Queiroz

Além do livro citado, existe um excelente trabalho de conclusão de curso da historiadora Leiane Pio intitulado “A Coluna Prestes: as marcas da passagem dos revoltosos no inconsciente coletivo dos habitantes do Tabuleiro dos Pio”. (1924-1926).

David Queiroz é formado em direito pela UESPI.
Foi aprovado no Exame da OAB e exerceu a profissão de advogado durante alguns anos.
Hoje ele é servidor público.