Por Cláudia Fernanda
Nesta terça-feira, 13 de maio, o município de Picos celebra oficialmente o Dia Municipal da Umbanda, data instituída por lei com o objetivo de valorizar essa expressão religiosa e reconhecer a sua importância histórica, cultural e espiritual na cidade.
A escolha do dia 13 de maio carrega um simbolismo profundo. Em 1888, nesta mesma data, foi assinada a Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil — o último país das Américas a fazê-lo. Embora o ato formal tenha sido realizado pela princesa Isabel, a abolição foi resultado direto da intensa pressão do movimento abolicionista, das lutas dos povos negros e dos debates internacionais que se intensificavam à época. No entanto, a dita abolição não foi acompanhada por políticas públicas de inclusão social, deixando os ex-escravizados à margem da sociedade. Por isso, a data é compreendida como um momento de reflexão sobre a resistência e a conquista da liberdade, mas também sobre as injustiças que persistem.Além disso, em alguns terreiros de Umbanda, essa data também é dedicada à celebração dos Pretos e Pretas Velhas, entidades que representam a ancestralidade, a sabedoria e a resistência do povo negro.
Em Picos-PI, a trajetória da Umbanda foi e continua sendo marcada por figuras históricas e lideranças religiosas que contribuíram de forma significativa para o fortalecimento da fé, da cultura de matriz africana e da identidade do povo de terreiro no município.
Entre essas personalidades, destacam-se nomes que deixaram um legado profundo e são lembrados com carinho, respeito e reverência. A saudosa Mãe Carminha D’Oxóssi (Maria do Carmo Soares), sendo uma das grandes referências da Umbanda na cidade, reconhecida por sua dedicação espiritual, compromisso social e liderança comunitária e resgatar a identidade de terreiro dentro da sua comunidade.

Também merecem destaque nomes como Francisca de Moraes, fundadora da União Umbandista de Picos; Luís Amaragurado, Maria e Cícero Calça Verde, que, com fé e resistência, construíram caminhos e abriram espaços para que a espiritualidade de matriz africana pudesse florescer, mesmo diante das adversidades impostas pelo preconceito e pela intolerância religiosa.

Também são referências importantes: Mãe Lindarice de Ogum, Pai Edson de Iansã, Mãe Josa de Iemanjá, Mãe Jandira de Iemanjá, Mãe Sheila Calça Verde, Mãe Socorro, Pai João e Mãe Luzia. Essas lideranças representam a continuidade de um legado construído com fé, resistência e serviço comunitário, mantendo vivos os rituais, saberes e práticas que caracterizam a Umbanda como religião de paz, equilíbrio e justiça espiritual.
A celebração do Dia Municipal da Umbanda é, portanto, mais que uma homenagem — é um reconhecimento da importância desses espaços religiosos e de seus protagonistas, que seguem enfrentando os desafios impostos pelo preconceito, mas que continuam transmitindo sabedoria, acolhendo famílias e preservando tradições ancestrais que fazem parte da identidade cultural de Picos.